Design para solidão

capítulo quatro:

Separar

A busca por espaço pessoal em meio a ambientes cada vez mais aglomerados

Pós modernidade

Experiência privada no ambiente público

A pós-modernidade trouxe um desejo crescente por liberdade e mobilidade, refletido na popularização do Walkman nas décadas de 1980 e 1990. 

Simbolizando uma nova era de individualismo e personalização, o Walkman não apenas oferecia uma sensação de liberdade auditiva, mas também marcava uma mudança na maneira como as pessoas interagiam com o espaço urbano, criando bolhas privadas de experiência em meio ao ambiente público.

O projeto de produto

A construção física do objeto

Em termos formais, o Walkman apresentava um design compacto e portátil, tornando-se o primeiro reprodutor de música verdadeiramente pessoal. 

Sua estrutura leve e elegante, muitas vezes com cores vibrantes, refletia a estética moderna da época. O dispositivo consistia em uma caixa retangular com um visor de controle de fita, botões simples e uma entrada para fones de ouvido, proporcionando uma experiência de audição mais intimista.

Primeira versão do Walkman, TPS-L2 de 1979.

Fita produzida pela TDK. 1970

Em termos de funcionalidade, o Walkman utilizava fitas cassete como meio de armazenamento de música. Isso permitia a reprodução contínua de músicas, proporcionando aos ouvintes a flexibilidade de escolher e personalizar suas playlists, uma ideia precursora da era digital que estava por vir.

 

O hábito de escutar suas próprias músicas já havia se intensificado devido à influência da indústria automobilística. Os carros que surgiram no período adotaram a fita cassete como mídia preferencial devido a seu tamanho e mobilidade. Isso popularizou seu uso, enquanto os jovens hippies cruzavam os EUA em Kombis, carros e motocicletas.

 

Associações semânticas

A construção social do objeto

Mais do que pela função, o Walkman se transformou em um objeto cultural pela sua associação ao indivíduo. Essa associação foi consequência das formas de representação e associações semânticas adquiridas por ele.

Isso garantiu que uma atmosfera de personalização fosse criada, mesmo que o produto fosse produzido em massa e vendido para milhares de pessoas ao redor do planeta.

Há uma revolução nas ruas. The Sony Walkman propaganda.

O Sony que quebrou a barreira do som. Propaganda Sony Walkman. 1980.

Ao contrário dos rádios lançados pela Sony anteriormente, que foram desenvolvidos para caberem no bolso, o Walkman foi projetado para ser usado no corpo, à vista de todos. Assim, o objeto se tornou um acessório de moda pessoal e intransferível, simbolizando a independência, a juventude e a própria individualidade.

Promovido não necessariamente como objeto mas sim como estilo de vida, os consumidores foram gradualmente associando sua auto-imagem ao tocador da Sony.

O segredo do sucesso comercial do Walkman também se deu através de representações inteligentes e voltadas para usuários específicos. O cartaz ao lado ilustra bem a estratégia de promoção do produto ao redor da cultura pop.

Além dos poucos elementos, causando uma sensação de pródiga sofisticação através do desperdício de espaço na propaganda, ele cria uma associação entre a aparência, as linhas escuras do Walkman, com a figura negra e refinada de Marvin Gaye e a música Soul nos anos 70, álbum clássico que todos deveriam ter em suas coleções.

 

Todo mundo deveria ter uma cópia disso. Marving Gale Propaganda. Sony Walkman.

em resumo

Em retrospectiva, o primeiro Walkman foi um catalisador para uma nova era na forma como entendemos e experimentamos a cultura material. Seu impacto foi além do aspecto técnico, influenciando profundamente a cultura, a moda e o estilo de vida, deixando claro que na mesma medida que nós criamos os objetos, eles também nos criam, moldando percepções e identidades através da materialização de significado.

Capítulo três: Querer

Capítulo cinco: Pertencer