Design para solidão

capítulo seis:

Consumir

A socialização como meio de vida e o consumo como forma de socialização em uma sociedade altamente conectada

Linhas de código de uma interface, 1993.  Photo por Markus Spiske no Unsplash.

O produto morreu

Vida longa ao sistema

 O consumo não se limita mais ao ato de adquirir produtos físicos, mas se estende a uma forma de vida online, onde a interação com plataformas digitais molda nossas identidades e comportamentos.

Estamos migrando para uma sociedade 100% digital, onde os aparelhos são conectados e até mesmo os ambientes físicos são projetados para atender dinâmicas que não existiam no passado.

Hoje, somos completamente dependentes desses sistemas para agendar consultas, solicitar documentos, ter acesso a ítens básicos e até mesmo realizar transações financeiras. No fim, as interfaces digitais  tem pouco a pouco substituído a interação humana.

Interfaces interativas

O design do auto-serviço

A adoção generalizada de interfaces digitais possibilitou o surgimento do sistemas “faça você mesmo”, que prometem mais autonomia e opções para ‘cliente’.

Desde de tripés para cameras fotográficas até interfaces de auto-atendimento em lojas e supermercados, esses itens são estratégicamente projetados para que os usuários consigam fazer tudo sem ajuda.

Além de tranferirem o relacionamento com pessoas para interação com objetos, esses sistemas transferem o trabalho que seria realizado por um profissional para os usuários finais, que precisam realizar funções para quais não são capacitados, exigindo de cada pessoa um tempo que poderia ser investido em momentos de lazer e conexão.

  

Jovem negro interage sozinho com camera para criar conteúdo audiovisual.  Photo por Eugene Zhyvchik no Unsplash.

A Ilusão do Progresso. Photo by Eugene Zhyvchik on Unsplash.

Economia da criação de valor

O poder da pespectiva

A economia da atenção também adiciona um fator importante sobre esse aspecto, com que pessoas e marcas investindo em estratégias de design que maximizam o tempo de tela e o engajamento.

Essa dinâmica reconfigura as relações nas redes sociais sob um lógica de mercado, tornando as interações superficiais e menos autênticas.

Aos poucos tudo se torna uma narrativa no ambiente digital, o que cria uma pressão para manter uma fachada de perfeição e sucesso fazendo muitos se sentirem incapazes de revelar suas vulnerabilidades.

Redes sociais

A perda de espaços de convivência

A predominância de espaços digitais sobre os físicos também refletem uma tendência de falta de espaços públicos livres da lógica de consumo. 

Estudos sobre sobrecarga de informações indicam que a exposição constante a estímulos visuais e auditivos, como anúncios publicitários, pode levar a um estado de sobrecarga sensorial e cognitiva, o que por sua vez pode contribuir para sentimentos de estresse e ansiedade (Fonte: Yoo et al., 2012).

Curitiba é o lar do primeiro espaço instagramável e interativo do Paraná. Foto de divulgação, 2021.

Os espaços “instagramáveis” surgiram dessa cultura de identidade perfeita. Eles são locais especialmente projetados para incentivar os visitantes a capturar e compartilhar fotos nas redes sociais, especialmente no Instagram.

Muitos contam com iluminação e recursos para que as pessoas possam se fotografar sem a ajuda de terceiros.

em resumo

O trabalho sempre foi uma maneira garantida de interagir com outras pessoas, mas o uso de ferramentas digitais como inteligência artificial e serviços de nuvem suprimiram a necessidade de contato. Agora, podemos criar sozinhos. comprar sozinhos,  interagir sozinhos, viver sozinhos.

Capítulo cinco: Pertencer

Capítulo sete: Sentir